quarta-feira, 25 de agosto de 2010

[Baudelaire - embriagai-vos]

É preciso estar sempre bêbado. Tudo reside nisto: é a única questão. Para não se sentirdes o horrível fardo do Tempo que sopra levemente os vossos ombros e vos dobra sobre a terra é preciso embriagar-se sem trégua.




Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, ao vosso gosto. Mas embriagai-vos.



E se às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a erva verde de um fosso, na solidão morna de vosso quarto, vós despertardes, com a ebriedade já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à escuridão, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que voa, a tudo que geme, a tudo que rola, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a escuridão, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: “É hora de se embriagar! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, ao vosso gosto!”

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