quarta-feira, 25 de agosto de 2010

[funcionário do mês da Microsoft]


A contagem do tempo é uma invenção humana. Se você acha que o tempo está passando mais rápido agora, tem razão. No mundo globalizado somos bombardeados continuamente por informação, por mensagens que nos convocam a consumir e pela oferta do tempo que nos pertence, cada vez mais, à empresa que paga nosso salário.




A gente mal se dá conta disso, mas o celular e a internet expandiram nossa jornada de trabalho. Nossa autonomia, portanto, diminuiu. Essa organização social resulta da ascensão das grandes corporações, que se sobrepuseram às regras de um estado que um dia existiu em nosso nome. Todo esse discurso de que é preciso "controlar" o estado, de que o estado "pesa" e de que o estado deve ser "mínimo" é de graça? Não, é dos ideólogos privados, aqueles que são encarregados de arregimentar o "exército corporativo".



Sai o estado e entra um novo discurso: é preciso vestir a camisa da empresa, defender a imagem da empresa, abdicar de seus direitos trabalhistas quando a empresa está em dificuldades financeiras, doar seus sábados, domingos e feriados para garantir o sucesso da empresa. É a lógica de acumulação de capital da empresas-estado, que precisa atuar unida e coesa contra o "inimigo", na disputa por mercado.



É essencial, portanto, que elas controlem nosso cérebro, razão pela qual os departamentos de Recursos Humanos sofisticam fórmulas para nos "motivar". O contrato não escrito é esse: a empresa-estado se propõe a nos proteger da selva do mercado de falta de trabalho desde que juremos fidelidade aos interesses dela. Somos convocados a abdicar de nossa autonomia, de nossas idéias, de nossos amigos e de nossa família para "servir ao exército".



A empresa-estado precisa de disciplina. De ordem unida. De coesão. Portanto, é preciso eliminar as vozes discordantes, independentemente de ideologia. Se você não concorda com os princípios da empresa-estado, será colocado na rua. Não há espaço para dissidência se "nossa" meta é ocupar 50% do mercado em 6 meses.



Gripe, indigestão, dor-de-cabeça? Não me parece difícil explicar as vendas recorde de antidepressivos. Abrimos mão de expressar nossas opiniões, da organização sindical ou comunitária, da participação política, da convivência social com a família e os amigos - abrimos mão de tudo isso para servir na infantaria da empresa-estado. Isso lá é jeito de gastar nossa única vida?



Hoje pagamos para almoçar ou jantar dentro da empresa. Fazemos ginástica laboral na empresa. Deixamos os filhos na creche da empresa. Os dormitórios são dispensáveis porque as novas tecnologias - o celular, a internet, a videoconferência - permitem fazer de você um "servidor" em tempo integral. Todas as garantias constitucionais estão subordinadas a essa lógica: a liberdade de reunião, de opinião, de expressão e de organização continuam valendo, desde que sejam exercidas em defesa da empresa-estado.



[O operário-padrão do século 21 - http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=1434]

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